quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Paranóia

Ele não imaginava que isso ia acontecer, mas aconteceu. Ele e todos os outros tinham certeza de que isso não aconteceria, nem poderia acontecer, ele havia dito que isso nunca mais aconteceria. De que adiantaria sonhar se a garota não ligava ? De que adiantaria ele esperar, ele ter esperanças, se ela era esnobe e egocentrista ? Ele decidiu desistir, porque, apesar de tudo, eles eram um pouquinho chegados e uma declaração estava fora de alcance, assim como qualquer outra tentativa, porque ele era tímido demais, mesmo que talvez desta vez a beleza - ou a falta dela - não fosse atrapalhar tanto.
Mas é claro que algo tinha que atrapalhar, quando ele decidiu partir para outra e procurar outra garota, sair beijando todas, até achar alguma que fosse a da vida dele - mesmo isso não sendo muito a dele, ele sabia que as garotas que faziam isso não eram do tipo que ele gostava, que ele esperava, mas é claro que ele faria, o que teria a perder ? -, mas ela não deixou, é claro. Não que ele tenha contado para ela e ela tenha impedido, ele sabia que se contasse ela diria para ele fazer o que bem entendesse, mas ela começou a olhá-lo diferente, a tratá-lo de um jeito suspeito. As vezes, ele pegava ela olhando para ele, mas virava os olhos, não era isso que ele queria.
O final (e o andamento) desta história, eu não posso escrever ainda, até onde eu sei, as coisas terminam por aqui. Não sei dar conselhos sobre isso, não sei o que se deve fazer. Ela não assume, nem ele. Mas fizemos uma descoberta, uma grande descoberta.
Na verdade, a garota não é tão má assim, e o garoto não é tão bobo. Na verdade, os dois sabem que se gostam, ou, talvez até sem exagero, que se amam. Mas os dois também sabem que não podem ficar juntos, que não duraria, eles são muito diferentes. Como poderiam se imaginar indo ao cinema, nas festas, de mãos dadas por aí, em um parque ou até em um show ?
Na verdade, eles sabiam que o que eles queriam eram os olhares, as briguinhas sem nexo e a aproximação tímida de sempre. Eles decidiram, sem nem tocar no assunto, que continuaria assim, até que eles aceitassem falar no assunto.


Talvez eu esteja assistindo filmes demais, e talvez, só talvez, isso tenha causado um post chato. Sinto Muito.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Silêncio dos Inocentes

Pense em qualquer sequência de cenas cinematográficas, por exemplo. Pense nos policiais, nos bandidos. E nos figurantes. Lembre-se de tudo que puder sobre o personagem principal. Lembre-se de tudo que não puder sobre aquele figurante, que morreu numa das cenas menos importantes. É um filme, mas agora reflita sobre os figurantes da vida real. Não se esqueça que você pode ser um deles, que figurantes também possuem vida, família, que eles possuem um mundo indecifrável, com temores e amores, ousadias e covardias.
Eu, em todas as situações, me ponho no lugar da outra pessoa - mesmo que várias vezes não fosse estritamente necessário - para entender melhor o seu mundo. Mesmo que seja totalmente diferente do meu. Pense como coletivo, pense grande. Pense que enquanto você 'perde seu tempo (ou não)' lendo este texto, milhares, milhões de outras coisas acontecem. Pessoas vivem o melhor momento de suas vidas. Corações batem livres pela primeira vez. Pessoas vivem o pior momento de suas vidas. Figurantes são assassinados à sangue frio. E pessoas, assim como você, podem estar lendo um texto escrito por uma adolescente sem sono, ou com sono demais, que pensava no que as outras pessoas estariam fazendo agora. Ou daqui alguns segundos.
E você, figurante, o que deveria estar fazendo agora ?!

domingo, 26 de outubro de 2008

De Volta Para o Futuro

Entre. Acomode-se. Aproveite o quanto puder. É, parece que estamos voltando no tempo, velas, flores, entradas fenomenais e vestidos estufados e tudo sem nenhum motivo concreto. A princesa espera pela plebe extremamente ansiosa, não se permitindo pensar num futuro próximo, onde tudo pode dar errado. Peguem seus convites, os jacarés estão na porta, esperando para comê-los vivos em qualquer deslize. No início, o castelo não parece muito apropriado para pessoas com nossa classe, mas percebemos um mundo novo abaixo de nossos pés quando a Família Real usa o 'abre-te sézamo !'. A maioria não tem um papel esclarecido ainda, com exceção da família da princesa, que nunca deixa de ser a família da princesa. Passados todos os cerimoniais e todo aquele puxa-saquismo costumeiro, sabemos que as coisas vão começar a acontecer, todos vão se libertar e mostrar um lado desconhecido. A parte prazeirosa da festa, onde todos se entregam aos compostos orgânicos que contém pelo menos uma hidroxila ligada a um átomo de carbono, às vezes composto de lúpulo, cevada e outros cereais. Todos dançam descontroladamente, esperando algo não-tão-inusitado acontecer. As pessoas começam a tirar suas máscaras e acabamos por descobrir muitos bobos-da-corte. Um deles na verdade é ela, mas nenhum dos outros conhece sua verdadeira ocupação, mesmo não sendo nada novo vermos uma meretriz bêbada. Sua primeira vítima é o principezinho, que também já não é mais uma criança inocente.Mas ela não pode parar por aí, apesar de fazer parte do núcleo de patrícios da princesa, a rameira parece não se importar com os sentimentos e pensamentos da amiga e nenhum dos outros Clientes e ataca mais uma vez. Sua vítima não usa a defesa nos primeiros momentos, a 'boba-da-corte' é rápida no gatilho, afinal, ele nem havia percebido a troca de parceira. Alguns instantes depois ele foge, sentindo-se culpado mas ainda bêbado demais para preocupar-se com isso no dia seguinte, ele é só mais um bobo-da-corte, afinal. Já podemos esquecê-lo agora. O que não esperava-mos, entretanto, é que mediante esses acontecimentos um dos nossos mocinhos se tornasse um palhaço real também. Espero que entorpecentes não sejam a causa, ele não mereceria. Nesse ponto da noite começam a aparecer as muitas damas-de-companhia, mas não posso esquecer de citar que a maioria delas era para um mesmo 'paciente'. Com a manhã se aproximando, a meretriz com muitas outras vítimas em sua lista, algumas amizades re-feitas e muitas desfeitas, com muito desperdício de álcool e muitas damas-de-companhia cansadas de fazer companhia um último acontecimento irrita alguns de nós. Desta vez a rameira exagera, quase fazendo atividades ilícitas com o príncipe dos príncipes, ou melhor, o príncipe da princesa. As damas-de-companhia agora se descobrem feitoras do bem e organizadoras da ordem e impedem uma grande briga. Tudo é um grande caos, mas não deixa de ser uma das melhores e possivelmente mais comentadas solenidades do ano. Agradeça por não ter sido convidado, você não seria mentalmente-preparado.
Ah, as festas de quinze anos...